Lara, uma mulher de 42 anos, vive com o marido e a filha mais nova. Há pouco mais de um ano, sua vida mudou completamente após a morte de seu filho mais velho, que tinha apenas 15 anos. Ele vinha enfrentando uma doença grave e, apesar de todos os cuidados, tratamentos e esperanças, o desfecho foi o que Lara mais temia: a perda definitiva de alguém que ela amava profundamente.

Desde então, nada mais parece ter o mesmo sentido. O quarto dele continua intocado — o uniforme escolar dobrado na cadeira, os livros sobre a escrivaninha e o cheiro suave de perfume que, às vezes, ainda parece preencher o ar. Lara não consegue entrar ali sem que o coração pese e as lágrimas brotem, mesmo quando tenta se manter firme.

A ausência do filho transformou completamente o ambiente familiar. O silêncio dentro de casa é diferente — não é apenas falta de barulho, mas de vida, de presença, de energia. Seu marido tenta se manter forte, mas ela percebe que ele também carrega uma dor silenciosa. A filha mais nova, sem compreender totalmente o que aconteceu, sente a falta do irmão e da mãe de antes, que agora parece distante, mergulhada em um luto profundo.

Lara convive diariamente com lembranças que a acompanham em cada detalhe da rotina. Acordar, preparar o café, olhar as fotos da família — tudo a faz lembrar do que perdeu. Em muitos momentos, sente um vazio que nenhuma palavra parece preencher. Há dias em que se culpa, perguntando a si mesma se poderia ter feito algo diferente, se em algum ponto falhou como mãe.

Essa dor invisível também alterou sua forma de ver o mundo. Lara sente dificuldade em planejar o futuro, em se abrir para novas experiências e até em encontrar alegria nas pequenas coisas. Apesar disso, faz esforço para continuar, por si mesma e por sua filha. Tenta, pouco a pouco, reconstruir sua fé na vida, mesmo sem entender o porquê de certas perdas.

Diante dos outros, Lara evita falar sobre o que sente. Responde com um sorriso leve, mas seu olhar revela que ainda está tentando encontrar uma forma de lidar com a ausência do filho — e com o silêncio que ficou em seu lugar.