Durante muito tempo, eu vivi calada. Carreguei uma dor que ninguém via, um segredo pesado demais para o coração de uma menina. Dentro da minha própria casa, onde eu deveria ser protegida, sofri a violência que mais me destruiu por dentro. Eu tinha medo, vergonha e uma sensação constante de estar suja, errada, culpada... como se fosse eu a responsável pelo que aconteceu.

Mas a verdade é que o silêncio me matava um pouco mais a cada dia. Eu não conseguia dormir direito, não conseguia confiar em ninguém, não conseguia me olhar no espelho sem sentir vergonha. Eu estava presa ao medo.

Foi então que, mesmo machucada, eu juntei forças de um lugar que nem sabia que existia dentro de mim. Decidi que não iria mais me calar. Com a voz trêmula, com o coração disparado, eu quebrei o silêncio. Eu decidi contar o que estava acontecendo. Eu busquei ajuda.

E naquele momento, apesar das lágrimas e da dor, eu senti algo diferente: liberdade e alívio. Não porque tudo se resolveu de uma vez, mas porque finalmente deixei de carregar sozinha um peso que não era meu. Meus pais ficaram extremamente depressivos depois de saberem. Eles e pessoas próximas de mim me acolheram e o agressor foi levado à Delegacia. O que aconteceu depois disso eu não conseguirei descrever, mas ele foi preso e pagará pelo que fez comigo.

Hoje ainda tenho marcas profundas e feridas que levarão tempo para cicatrizar. Mas eu sei que fiz o que precisava ser feito: dei um fim naquele ciclo. E cada vez que lembro que tive coragem de falar, eu me lembro também que minha vida vale mais do que o medo, que minha voz vale mais do que o silêncio.